quinta-feira, 4 de novembro de 2010

A Dança de Deus

É o Cristianismo que faz mais sentido para a compreensão das nossas histórias individuais e da história do mundo. Os cristãos conseguem explicar com maior força de onde nós viemos, o que está errado conosco e como isso pode ser consertado do que qualquer outra corrente religiosa. A Bíblia pode ser resumida como um drama em quatro atos: criação, queda, redenção, e restauração.
Apenas o Cristianismo, dentre as outras crenças mundiais, ensina que Deus é trino. A doutrina da Trindade ensina que Deus é um ser que existe eternamente em três pessoas: Pai, Filho, e Espírito Santo. A Trindade significa que Deus é, em essência, relacional.
Há no relacionamento das três pessoas da Trindade um ciclo de glorificação, em que o Espírito glorifica o Filho, o Filho o Pai, e o Pai o Filho, e isso tem ocorrido por toda a eternidade.
Glorificar algo ou alguém significa louvar, desfrutar, e alegrar-se nele. Quando algo é útil para nós, somos atraídos a ele por aquilo que ele pode trazer para nós ou fazer por nós. Mas se ele é belo, então, nós o apreciamos simplesmente pelo que ele é. Apenas estar em sua presença é a sua própria recompensa. Glorificar alguém também é servir e submeter-se a ele. Ao invés de sacrificar os interesses dele para fazer você feliz, você sacrifica os seus próprios interesses para fazê-lo feliz. Porque sua alegria suprema é vê-lo alegre.
Auto-centralização ou egocentrismo é estar imóvel, estático. Na auto-centralização, nós demandamos que os outros orbitem ao nosso redor. Nós faremos coisas e daremos afeição aos outros, conquanto que isso nos ajude a alcançar nossos próprios objetivos e nos preencher.
A vida íntima do Deus trino, no entanto, é completamente diferente. A vida da Trindade não é caracterizada por auto-centralização, mas por um amor de auto-doação mútua. Isso cria uma dança, em que um gira em torno dos outros dois, derramando amor, prazer, e adoração neles. Os líderes primitivos da igreja grega tinham uma palavra para isso – perichoresis. Note nossa palavra “coreografia” dentro dela. Ela significa literalmente “dançar ou fluir ao redor”.
Se Deus não existe, então, tudo em e sobre nós é o produto de forças impessoais. Mas se Deus existe e Ele é trino, então, relacionamentos amorosos em comunidade são a grande fonte no centro da realidade. E a realidade suprema é uma comunidade de pessoas que conhecem e amam umas as outras. Esse é o propósito do universo, de Deus, da história, e da vida. Nada pode estar acima de relacionamentos humanos, ou então, estaremos acabando com a realidade, com a nossa própria natureza humana, com aquilo para o qual fomos criados.
Deus pede para que nós o glorifiquemos, porque ele deseja a nossa alegria. Ele tem infinita felicidade não através da auto-centralização, mas através da auto-doação, do amor centralizado no outro. E a única forma de nós, que temos sido criados a sua imagem, podermos ter a mesma alegria, é se nós centrarmos as nossas vidas completamente ao redor dele ao invés de nós mesmos.
Deus não nos criou para conseguir a alegria cósmica e infinita do amor mútuo e glorificação, mas para compartilhá-la. Nós fomos convidados para nos juntarmos a dança. Se nós centrarmos nossas vidas nele, servindo-o não por um interesse próprio, mas apenas por causa de quem ele é, por causa da sua beleza e glória, nós entraremos na dança e compartilharemos da alegria e do amor nos quais ele vive.

Baseado no livro de Tim Keller "The Reason for God".